quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Lanchonete do Miguel

A infelicidade das pessoas quando nos atendem é contagiante. Hoje no almoço estive em uma grande rede internacional de fast food, a Lanchonete do Miguel, e a moça que me atendeu se arrastava do lado de dentro do balcão. Deve ter esquecido o sorriso em algum lugar da infância. Tinha uma aparência jovem, mas parecia que os poucos anos da sua vida já pesavam como toneladas nas suas costas. Até sua postura era de alguém cansada da vida. A cara fechada e o bufar a cada 15 segundos revelavam distância glacial entre ela e a paz.

Nunca ninguém me disse que a vida seria fácil, nem mesmo que trabalhar seria uma coisa tranquila de se fazer. Aliás, trabalhar é uma degradação. Emburrece e escraviza. Limita o pensamento e deixa o ser humano cada vez mais fechado em um mundo falso e político. Sei de tudo isso. Mas voltando à nossa garota cansada, fico pensando o que leva uma pessoa a querer trabalhar num lugar daqueles, ganhando miséria, sendo infeliz, esquecendo que é um ser humano. A mesma coisa que me leva a trabalhar em qualquer lugar do mundo: a necessidade. 

Todos nós somos substantivos que conjugamos verbos, mas o verbo necessitar entristece. Deixa escuro, cala, mata e nos força a tomar decisões e atitudes nem sempre interessantes para o nosso bem. A atendente do fast food é mais uma vítima da vida, mais uma entre milhões que têm necessidades e precisam ser supridas. A minha, neste momento, é escrever este texto. Naquele, era comer. Mas ser bem atendido também é bom. Naquele momento fiquei irritado de ser mal atendido. Não precisamos ser infelizes no trabalho, mas a necessidade nos manda trabalhar. Não precisamos gostar das pessoas, mas tratar com educação não é necessidade.