terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dois em um


Em algum lugar no fundo da minha alma,
entre a razão e o coração,
existe algo mal resolvido.
Uma estrada por acabar,
uma volta a completar,
uma vela a içar,
um relógio cujos ponteiros
vão e voltam sem sair do lugar.

Lá, bem no fundo da minha alma,
há alguém que clama por uma força
que este alguém aqui de fora
parece não ter mais.
Aquele lá do fundo pede coragem,
este cá de fora, pede que se cale.
Pede perdão, compreensão. Pede só.

Do fundo da alma, há janelas
que se podem abrir e ver o que vejo.
Pior, aquele lá do fundo da alma,
do meio da ponte entre a razão e o coração,
pode ver as desistências e os enganos
que este aqui de fora comete com ele mesmo.

E de lá, do fundo da alma,
aquele está desistindo de pedir sem ser escutado,
está desistindo de mostrar para este aqui de fora
que as coisas podem ser diferentes e sem dor,
que o destino é maleável, que o coração sabe de tudo,
que a razão pensa que sabe, e que este poema,

mesmo vindo deste que está de fora, toca aquele lá do fundo. (Marcio)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tristeza


Não quero isso pra mim.

SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Assim somos nós


Conheço uma pessoa que diz não saber como o ser humano chegou até aqui. É verdade, Mari, não sei como chegamos até aqui, sendo que não conseguimos respeitar nem a nós mesmos. É incrível, mas a nossa capacidade de auto-sabotagem é tão grande que não somos capazes de sermos dignos da felicidade nos relacionamentos. Talvez chegará o dia em que vamos descobrir que não conseguimos ser felizes ficando com alguém, mas somente sozinhos. Talvez chegue o dia em que vamos, finalmente, descobrir como chegamos até aqui assim, fazendo do mundo um lugar terrível de viver.

Enquanto esse dia não vem, vamos caminhando, deixando rastros no caminho, roubando um pouco da vida dos outros, deixando um pouco da nossa vida nos outros, magoando, sendo magoados, tristes, felizes, mas sempre seres humanos. Sempre a personificação da imaturidade, mesmo aos 70 anos. Sempre teimando com tudo e com todos, entrando na vida das pessoas e saindo delas de maneira estranha, sem avisar, sem pedir licença.

É assim que funciona, é assim que chegamos até aqui: sem saber como nem por quê. Simplesmente chegamos.