DATAS
Hoje é dia do Exército Brasileiro. Servi durante um ano e dois meses. Tempo de sofrimento e aprendizagem. Minha mãe, quando me viu pela primeira vez fardado, calou. Ficou me olhando com a mão esquerda na boca, a outra segurava o crochê que ela sempre fazia. Chorou depois, tenho certeza, ela não conseguia esconder. Nem eu consigo. Ela me ensinou isso. Passou muitas fardas minhas, engomou muita farda. Nossa, quanta coisa ela fazia pra eu levar pro quartel. Eu era um soldado mimado. Pegou seus lanches? Sim, já estão na mochila. Tchau, cuidado.
Hoje é o dia do índio. Na escola, sempre que era dia do índio, vínhamos pintados. E minha mãe tirava foto dos filhos pintados de índio. E falava pra gente sobre os índios e estudávamos os índios nos livros, víamos fotos. E o Globo Repórter apresentava programa sobre índios. Só quando tem dia do índio eles fazem isso, ela dizia. É verdade. Hoje nem isso fazem.
Não escrevi este texto pra falar sobre essas três datas. Escrevi pra falar sobre a minha mãe. É que hoje estou sentindo falta dela. Às vezes os dias passam que nem me lembro dela, mas hoje está difícil. As pessoas e os acontecimentos têm datas. As mães são sempre. As mães são o início de tudo e o nosso porto seguro. As mães são o nosso Rei, o nosso exército e nosso índio.
"Oh, pedaço de mim
ResponderExcluirOh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais"
É uma linda homenagem...
ResponderExcluirEla com certeza leu tudo isso e se emocionou como eu...