terça-feira, 21 de maio de 2013

Estúpida retórica


Certamente você que me lê agora teve oportunidades na vida. Mesmo que no singular, mas teve. Se está aqui é porque tem um computador, um smartphone, está numa lan house, está no trabalho ou na faculdade. Seja qual for a sua situação, se você está aqui me lendo, é porque teve oportunidade na vida. Não estou aqui dizendo que você é rico(a) ou pobre, estou somente constatando um fato. Pode ser, sim, que a oportunidade tenha passado e você não quis ou não deu certo ou não estava num bom momento. Entendo, mas nada disso importa para o que quero dizer. 

Eu tive oportunidades na minha vida. Aproveitei ao máximo cada uma delas. Poderia ter sido melhor? Sim. Mas a verdade é que tive oportunidades. Meus pais nem chegaram ao ensino médio, mas não foi por falta de oportunidade. O que quero tentar mostrar aqui é que eu, você e um pequena parte da nossa sociedade teve oportunidade. Vamos entender oportunidade aqui como suprimento do mínimo das necessidades básicas.

Há no entanto uma gama da população brasileira que nunca teve acesso nem oportunidade na vida. Imagine-se passando fome, sem banho, sem privada, sem água encanada, sem casa, sem o básico para sobreviver. O que você faria? Como pensaria em sair dessa situação, se nem o que comer você teria? Como se aproximaria de alguém cheirando mal? É assim que muita gente vivia e ainda vive no Brasil. É assim com milhões de pessoas no planeta. Com a atual polêmica sobre o Bolsa Família, as opiniões divergem muito. Chega a ser abissal. E é justamente por isso tão interessante poder expressar opinião. 

Tenho visto muita gente criticar o Bolsa Família, com os mais diversos argumentos possíveis. Mas diferentemente do que a maioria das pessoas acha, o programa é feito para tentar devolver a dignidade às pessoas que passam por grandes dificuldades. Pessoas que não tem como se desenvolver sem uma distribuição de renda mais justa. Pessoas que precisam primeiro comer e ter o mínimo de higiene para depois tentar procurar emprego. 

É preciso ter cuidado ao assistir a uma reportagem ou ao ler alguma notícia sobre esse assunto. A grande mídia cria um pano de fundo nebuloso e raivoso. Procure saber, por exemplo, que há centenas de famílias devolvendo o cartão do benefício porque já conseguiram se erguer e hoje caminham com as próprias pernas. 

Nosso Brasil é assim: os portugueses sugaram tudo o que tínhamos; tivemos quase 400 anos de escravidão; duas ditaduras; faz só 28 anos que conseguimos votar livremente e tivemos, depois disso, governos para as elites. Não podia continuar assim. Como queremos ser um país digno com uma história dessa?

Antes que alguém pense que sou mais um petista, mais um religioso, mais um chato ou esquerdista, não, não sou. Nenhuma dessas coisas me representa. Mas sou um cidadão preocupado com o futuro de um país lindo, porém com inúmeros problemas por resolver. Sou mais um indignado com a realização de uma copa do mundo aqui. Sou mais um indignado em termos um Fliciano, um Malafaia, um Sarney ainda no governo. Sou mais um que tenta, dentro do seu microcosmo, dentro do seu mundinho, ajudar a quem precisa e levar um pouco conforto.

Não vamos ver um Brasil melhor de uma hora para a outra. São muitos anos de corrupção, que ainda existe dentro de todas as esferas da sociedade, e, desculpa a franqueza, nunca vai acabar. O ser humano é o ser humano. A corrupção não tem tamanho, o ato pode ser pequeno, mas é corrupção do mesmo jeito.

Meu objetivo com esse texto, caro(a) leitor(a) - eu, pretenso Machado de Assis - é tentar mostrar que há dois lados em uma moeda. 

E você, que fica com raiva e indignado(a) de ver as pessoas receberem "de graça" um benefício do Governo, faça o seguinte: troque de lugar com essa pessoa e desfrute de todo o conforto que lhe será proporcionado.

Até o próximo post.

 

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